sexta-feira, 20 de junho de 2014

Post nº 78


ÁTILA  É  PARALISADO  NAS  MURALHAS  DE  AQUILEIA  PELA  SUPERSTIÇÃO

Átila vingou-se da valente resistência da grande cidade romana de Aquileia
destruindo-a até os alicerces após três meses de cerco

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Átila ficara furioso com a sua derrota na Gália e decidiu vingar-se de Aécio invadindo a Itália no ano seguinte, onde ele sabia que a posição militar do seu adversário era frágil por não dispor de aliados poderosos como na Gália. O exército huno também ficara enfraquecido com a derrota nos Campos Catalúnicos, mas ainda era enorme se comparado com o isolado exército de Aécio. Por isso cruzou os Alpes orientais no final de março de 452 DC e cercou Aquileia, a maior e mais importante cidade do nordeste da Itália, intimando-a a render-se. A cidade recusou os termos de rendição e a batalha começou. Aconteceu então um fato que paralisou os hunos: no alto das muralhas havia soldados negros como carvão!

A massa de guerreiros hunos jamais vira gente dessa cor e ficou aterrorizada, pensando que certamente eram demônios que tinham vindo defender a cidade. Na verdade os “demônios” eram guerreiros vindos do sul do grande deserto africano, sobreviventes de uma feroz guerra tribal. Tinham se incorporado como guardas a uma grande caravana que seguia rumo a Cartago. Quando lá chegaram, maravilharam-se com a imensa metrópole, mas ficaram desempregados e o sheik seu ex-patrão, um homem compassivo que se afeiçoara a eles, procurou ajudá-los. Como os guerreiros não sabiam fazer outra coisa senão lutar, o sheik lhes procurou emprego de natureza militar e soube que no sul da Itália legiões romanas estavam recrutando mercenários para preencher seus quadros devastados na recente guerra contra os hunos. Conseguiu passagens para eles em navios que se dirigiam aos portos do sul da península e pediu aos capitães seus amigos que os encaminhasse aos postos de recrutamento tão logo desembarcassem.

Assim aconteceu, e uma centena deles foi incorporada a uma legião juntamente com milhares de mercenários das mais diversas nacionalidades que para lá iam em busca de emprego. A grande legião perdera metade dos seus efetivos e por isso alistara mais de três mil mercenários, todos eles experientes na arte da guerra. Os duros treinamentos durante o outono e o inverno lhes ensinaram a disciplina e as táticas de combate romanas, fazendo com que a legião readquirisse seu antigo poderio e estivesse pronta para a batalha ao ser mandada para Aquileia no começo da primavera. Quatro dias após sua chegada os hunos aproximaram-se e a luta começou.

Foi quando viram os soldados negros e recuaram em pânico.

Átila, ao contrário da nossa propaganda na época, e que continua sendo repetida até hoje, não tinha nada de ignorante: conhecia várias cidades do norte da Itália, inclusive Ravena, e sabia falar, ler e escrever latim razoavelmente. Durante suas visitas à Itália vira pessoas de pele escura e sabia que elas não tinham nada a ver com “demônios”; por isso fez um veemente discurso aos supersticiosos soldados censurando-lhes a covardia e explicando-lhes que os soldados negros de quem tanto tinham medo eram gente comum, vinda de um lugar distante do outro lado do mar, onde o calor abrasador queimava a pele do povo e lhe dava a cor negra.

Ao contrário do que diz a história oficial, Átila não tinha nada de selvagem e o filósofo bizantino Crispus, que
foi embaixador de Constantinopla na sua corte, diz que ela era bastante sofisticada 

Certo de que suas explicações tinham bastado ordenou novo ataque, mas os soldados mantiveram-se a uma distância segura atirando flechas e pesadas pedras com as suas catapultas ao invés de tentarem escalar a muralha.

Indignado, Átila ordenou várias execuções por covardia, e ele pessoalmente cortou a cabeça de meia dúzia de “covardes”, mas isso em nada melhorou o ânimo combativo das tropas. Ele estava sem entender o que se passava na mente dos soldados acovardados quando um dos seus generais o procurou e disse-lhe: “Os homens não são covardes nem tem medo de morrer em combate, pois sabem que se morrerem lutando uma bela Valkiria levará suas almas para o Valhalla, onde passarão a eternidade caçando e galopando pelos seus paradisíacos campos sem fim; mas acham que se forem mortos por um demônio imortal este se tornará dono das suas almas e as levará para o inferno onde sofrerão eternamente”!
  
“Então é isso”, disse Átila, “Os soldados acham que os negros são demônios porque são imortais; se é assim, só há uma solução: matar um deles”!

Ele notara que os legionários negros tinham se divertido com a “covardia” dos atacantes e por isso ficavam imprudentemente de pé nas ameias fazendo gestos obscenos e zombando do inimigo, que até então se conservara à distância. Mandou suas tropas se postarem em frente da cidade e calmamente as passou em revista; depois fez meia volta e se aproximou da muralha, galopando velozmente ao longo dela sob uma chuva de flechas enquanto mirava cuidadosamente um dos legionários negros de pé sobre a ameia. O disparo do seu arco foi preciso e o soldado imprudente caiu do alto com o pescoço trespassado por uma flecha certeira.

Quando voltou da sua teatral corrida sob os aplausos ensurdecedores das suas tropas o valente rei dos hunos lhes disse: “Vocês viram que os negros não são demônios, pois não são imortais; vamos agora lutar de verdade e derrotá-los”! Os ferozes guerreiros atacaram em massa e só então a batalha de Aquileia realmente começou.

Por incrível que pareça a cidade resistiu três meses!

O exército de Aécio na Itália era muito inferior ao de Átila e ele adotou a tática de guerrilhas ao invés
de enfrentar os hunos em campo aberto. Por isso não pôde socorrer Aquileia.

Aécio ficara surpreso por Átila não haver desistido depois do primeiro mês, pois os hunos gostavam de lutar em campo aberto, galopando velozmente e disparando flechas contra o inimigo, mas detestavam cercos prolongados, nos quais tinham de lutar a pé escalando muralhas. Nesse tipo de luta, enquanto alguns grupos atacavam e eram repelidos os demais ficavam ociosos aguardando sua vez de atacar; isto os irritava e desgastava, e sempre que podiam evitavam tal tipo de combate. Também o surpreendeu o fato de Átila não ter deixado uma fração das suas tropas cercando a cidade e avançado com seu imenso exército sobre o resto da Itália.

Do ponto de vista militar a atitude do rei huno não fazia sentido.

O que Aécio só veio saber depois é que a covardia dos hunos diante dos “demônios” humilhara Átila profundamente e ele decidira vingar-se da zombaria dos legionários; por isso resolvera recuperar sua honra militar destruindo a cidade com ataque após ataque a fim de não dar descanso aos defensores e esmagá-los rapidamente. Porém os legionários lhe opuseram tenaz resistência, fazendo-o apegar-se ainda mais ao seu infantil projeto de vingança, alheio ao bom senso militar. O orgulho ferido de Átila, portanto, teve grande influência no resultado final da campanha.